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Humor / Depressão - Distimia
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Eventos Vitais Precipitando Depressão

Introdução
Para facilitar a compreensão do tema abordado escrevemos abaixo uma explicação análoga à dada pelos autores deste trabalho, porém simplificada.
A finalidade desse trabalho é estudar o grau de influência que os eventos vitais estressantes (como a perda do emprego, por exemplo) exercem sobre o surgimento da depressão.
Os homens usam as ocorrências temporalmente relacionadas para associarem como relações de causa e efeito. Apesar de serem muito tentadoras essas relações freqüentemente estão equivocadas. Vejamos os seguintes exemplos: uma partida de futebol assistida na casa de uma determinada pessoa por um grupo de amigos. O time desse grupo está ganhando quando chega um outro visitante e esse time passa a perder. Todos começam então a dizer que este novo visitante é "pé frio", implicam com ele, dizem para ir embora. Esta é uma situação bastante comum, mas todos sabemos que não passa de uma brincadeira. Vejamos outra situação. Um trabalhador perde o emprego e não consegue ser admitido noutro, um mês depois da demissão começa a apresentar sintomas depressivos que prejudicam ainda mais a busca de novo trabalho. Nessa situação somos tentados a dizer que este homem desenvolveu depressão porque perdeu o emprego.
Analisando friamente essas situações não encontraremos muitas diferenças. Em nenhuma das duas há provas de que o fato ocorrido gerou a conseqüência: no primeiro caso a virada do placar, no segundo caso a depressão. São fatos temporalmente relacionados, mas de natureza distintas. Para se afirmar que existe uma relação de causa e efeito ou simplesmente influência, deve-se usar ferramentas isentas de opinião, em que se possa confiar; a análise estatística é uma boa ferramenta para essas situações

Método

Os autores avaliaram a ocorrência de 15 classes de eventos vitais estressantes e o início de sintomas depressivos durante o período de um ano. A amostra populacional foi constituída por mulheres gêmeas idênticas e não idênticas com a média de idade de 35,1 anos. Foram entrevistadas pessoalmente ou por telefone 3.900 mulheres
Resultados
Durante todas as categorias de eventos vitais estressantes aumentou-se o risco de surgimento de episódios depressivos. Dos 15 tipos de eventos vitais, 11 estavam mais fortemente ligados a depressão no mês seguinte, à ocorrência do evento ou dois meses depois. Quanto aos pares de gêmeas não idênticas (que possuem aproximadamente metade do código genético igual) constatou-se uma taxa de risco de depressão iniciada próxima a um evento estressante de 4,52. As gêmeas idênticas (que possuem o mesmo código genético) apresentaram na mesma situação uma taxa de 3,58.
Os eventos estressantes mais significativos foram: assalto, separação conjugal, problemas financeiros, sérios problemas domésticos, doenças ou ferimentos graves, perda do emprego, problemas legais, perda de pessoa de confiança, ser roubado, sérios problemas no trabalho, problemas de relacionamento com quem se convive, crise pessoal, morte de pessoa próxima. Os eventos não estão em ordem de importância.

Discussão
As análises estatísticas permitem afirmar que há uma forte relação entre a ocorrência de um evento vital estressante e a precipitação de um quadro depressivo. Pode-se afirmar que pelo menos em parte há uma relação causal entre estresse e depressão. Se por um lado confirmou-se a influência genética no desenvolvimento da depressão no caso das gêmeas não idênticas, esse fator é contestado pela menor taxa entre as gêmeas idênticas. É possível que essa contradição seja devido às limitações metodológicas desse estudo, como a restrição ao sexo feminino e ao estudo de gêmeas
Conclusão
O resultado sugere fortemente que a experiência de eventos estressantes aumentam substancialmente as chances do aparecimento de depressão. Contudo, a influência não é necessariamente direta, ao invés de pensarmos que um gen favorece a depressão quando seu portador é submetido a estresse. Podemos pensar também que essas pessoas possuem uma carga genética que as tornem "pessoas difíceis", ou tenham "personalidade neuróticas", e estes traços por sua vez levam essas pessoas a sofrerem mais reveses sociais, sendo então submetidas a maior carga de estresse que precipita a depressão. Portanto não seria o evento estressante o desencadeante principal, mas o comportamento geneticamente influenciado que leva a pessoa a expor-se a situações que geram depressão.

Última Atualização 4-10-2004
Referência Biblio.
:
Psychosomatics 40:185-192, June 1999
Eventos Vitais Precipitando Depressão

Eventos Estressantes, Genética

Este estudo foi realizado com a finalidade de esclarecer como as variações genéticas e os eventos vitais interagem na formação da depressão. Informações sobre eventos estressantes e o início de um quadro depressivo nos anos anteriores foram colhidas numa população de 2.164 irmãs gêmeas e comparadas a 53.215 pessoas/mês. Foram detectados 492 casos de início de depressão. Os eventos vitais mais fortemente ligados à depressão foram: morte de um parente próximo, assalto, problemas conjugais sérios, divórcio. A ligação genética também apresentou seu impacto no risco da formação da depressão. As análises estatísticas mostraram uma relação entre a carga genética (genótipo), a interação com o ambiente e o desenvolvimento de depressão. Os autores concluíram que há uma predisposição genética para o surgimento de depressão a partir de um evento estressante.

Última Atualização 14-10-2004
Referência Biblio.
: Am J Psychiatry 1995; 152:833–842
Stressful life events, genetic liability, and onset of an episode of major depression in women.
Kendler KS