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Transtornos Dissociativos
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Relação estre Distúrbios Dissociativos e Abuso Sexual na Infância

Introdução
Distúrbio Dissociativo pode ser definido como uma interrupção nas funções integrativas de consciência, memória, identidade e percepção do ambiente. Sintomas dissociativos estão em continuidade entre a normalidade e a psicopatologia, podendo ser encontrados nas pessoas sem transtornos psiquiátricos, até constituirem eles mesmos uma síndrome. Exemplos como atividades normais são: sensação de estar sonhando enquanto está acordado, lapsos de memória, fenômeno déjà vú; como atividade anormal são: fuga psicogênica, personalidade múltipla, amnésia psicogênica. Sintomas dissociativos podem ser encontrados em 1/4 dos pacientes psiquiátricos em geral. Pesquisas feitas na população geral mostraram que esses sintomas estão presentes em aproximadamente 5% das pessoas. Fica assim constatado que esses sintomas são muito comuns. A hipótese da ligação entre os sintomas dissociativos e traumas passados é antiga, sendo investigada desde o começo do século passado. Acredita-se que um trauma, principalmente se ocorrido durante a infância, é responsável por induzir a um processo de defesa dissociativa. Nas últimas décadas retornou à psiquiatria o enfoque descritivo/ateórico dos sintomas. Desta forma a busca de ligações entre trauma infantil e a síndrome dissociativa se faz em termos estatísticos ao invés de explicativos. Como não existe unanimidade entre os estudos que buscam origens na infância dos transtornos dissociativos, alguns pesquisadores contestam esta hipótese. Acredita-se que falhas metodológicas tenham deturpado os estudos que nada encontraram. O presente trabalho tem a finalidade de estudar essa questão seguindo uma metodologia padronizada
Método - Uma amostra de 1028 pessoas foi selecionada para participar das entrevistas semi-estruturadas (seguindo um padrão pré-definido de perguntas). Foi aplicado também um questionário de auto-avaliação de sintomas dissociativos. Cada participante foi indagado quanto a ter sido forçado a participar de uma atividade sexual, enquanto era criança. Além do abuso sexual foi investigado também abuso físico.
Resultado - De acordo com o que foi dito no começo, a existência de uma continuidade entre sintomas dissociativos "normais" e patológicos torna o problema analisável apenas por métodos de análise matemática. Ou seja, define-se como anormal os 5% da população que estiver nos extremos da curva gráfica em torno da média (curva de Gauss), da mesma forma como se define inteligência normal, inferior ou superior. A parcela de pacientes com sintomas dissociativos proeminente encontrada a partir desses critérios compõem 6,3% da população total.
Os sintomas mais encontrados foram:
Não ouvir o que outras pessoas dizem
Episódios de esquecimento
Comportar-se de maneira inesperada
Episódios de sensação de estar revivendo ocorrências
Sensação de não estar num mundo real

Sintomas menos encontrados, mas também presentes:
Esquecer o caminho que percorreu até um determinado local
Achar coisas "novas" entre os pertences antigos
Objetos ou pessoas com aparência irreal
Parte do corpo como não pertencente a si mesmo
Ter a impressão de que um fato real não ocorreu, foi uma fantasia
Ter a impressão de que uma fantasia idealizada foi real
Achar manuscritos pessoais sem conseguir reconhecer como próprios
Ter a impressão de que é duas pessoas diferentes

Do grupo selecionado de 6,3% com sintomas dissociativos acima da média, estudou-se a história de abuso físico e abuso sexual durante a infância assim como transtornos psiquiátricos atuais. Ao contrário do que se pensava, os indivíduos com passado de abuso sexual não constituía um grupo tão volumoso quanto se esperava. Já os indivíduos com história de abusos físicos e transtornos psiquiátricos apresentaram muitos sintomas dissociativos atuais

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Discussão - Esse estudo confirma que uma parcela significativa da população (aproximadamente 6%) desenvolvem sintomas dissociativos com frequência. As crianças que sofreram abusos físicos como espancamento por exemplo estão mais sujeitas a apresentarem algum transtorno psiquiátrico, além do próprio transtorno dissociativo. Ao contrário da maioria dos estudos aqui não ficou clara a relação entre abuso sexual na infância e transtorno dissociativo no adulto. Isto indica que não há clareza a respeito dessa questão, uma vez que outros estudos não confirmaram tal relação. A possibilidade de haver falhas metodológicas tanto pode ser dos estudos antigos que revelaram uma ligação entre abuso sexual na infância e síndrome dissociativas no adulto como dos estudos atuais que não detectaram essa relação.

Última Atualização: 29-10-2004
Referências Biblio.:
Am J Psychiatry 1998, 155: 806-811
Relação estre Distúrbios Dissociativos e Abuso Sexual na Infância