Transtornos
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Transtornos
Somatoformes
A essência desses transtornos é o sintoma físico sem base
médica constatável, persistência nas queixas, apesar de
repetidos achados negativos e de reasseguramentos pelos médicos de que
elas não têm fundamento clínico. Pode acontecer também
da pessoa ter uma doença física fundamentada, mas com queixas
exageradas que não justificam o problema que têm. Esses casos com
certeza são mais complicados e confundem os médicos. Observa-se
também uma forte recusa por parte do paciente de admitir que seu problema
seja psicológico, mesmo quando há um evento estressante na sua
vida. Estes pacientes tendem a trocar de médico constantemente, possuem
intermináveis listas de exames e medicações; suas histórias
são tão longas quanto complicadas. Transtornos
de personalidade podem estar associados.
Transtorno
de Somatização
Esse transtorno caracteriza-se por múltiplas, recorrentes, freqüentes,
mutáveis e prolongadas queixas de sintomas físicos sem uma base
médica constatável. A principal diferença entre esse transtorno
e a hipocondria é a atitude do paciente. Na hipocondria o paciente revela
uma intensa preocupação e sofrimento com algum problema sério;
na somatização o paciente queixa-se de seus sintomas, mas não
possui a mesma crença e temor do hipocondríaco. Antes dos pacientes
com somatizações procurarem um psiquiatra eles passam anos mudando
de clínicos, procurando diversos médicos e fazendo vários
exames. Qualquer área do corpo pode estar afetada, mas as queixas mais
comuns estão centralizadas no tubo digestivo com dores, eructações,
regurgitações, vômitos e náuseas; queixas dermatológicas
e sexuais. Como o paciente recusa-se a aceitar que nenhuma disfunção
foi descoberta pelos exames e consultas, acaba tendo desavenças com as
pessoas próximas. Esse distúrbio começa geralmente antes
dos 30 anos de idade e é muito mais comum em mulheres. Freqüentemente
outros distúrbios psiquiátricos estão associados como depressão
e ansiedade. Uma das consequências são as
indisposições de ânimo geradas em quem está próximo, pois
com o tempo se cansam de tanto ouvirem as mesmas queixas.
O começo de qualquer queixa não pode ser ignorado porque essas
pessoas, como quaisquer outras, podem vir a ter problemas físicos potencialmente
graves. É de nossa experiência um caso semelhante: felizmente a
doença foi detectada a tempo (tratava-se de um câncer benigno)
e a paciente operada com sucesso. Contudo ficou por mais de dez anos tendo sintomas
correlatos à queixa inicial sem que nada houvesse clinicamente.
Hipocondria
É a crença
persistente na presença de pelo menos uma doença física
grave, progressiva, com sintomas determinados, ainda que os exames laboratoriais
e consultas com vários médicos assegurem que nada exista. Muitas
pessoas quando passam por uma doença grave e se restabelecem ficam sensibilizadas
com o que aconteceu, preocupando-se demais. Contudo, nesses casos, se uma consulta
ou novo exame descartarem o recrudescimento da doença e o paciente tranquilizar-se,
não havia hipocondria.
Os hipocondríacos normalmente sentem-se injustiçados e incompreendidos
pelos médicos e parentes que não acreditam em suas queixas: eles
levam seus argumentos a sério e irritam-se com o descaso. Por outro lado
resistem em ir ao psiquiatra sentindo-se até ofendidos com tal sugestão,
quando não há suficiente diálogo com o clínico.
Os hipocondríacos podem ser enfadonhos por repetirem constantemente suas
queixas, além de serem prolixos nas suas explicações.
Não se conhece medicação específica para hipocondria,
mas acredita-se que psicoterapia pode ajudar quando iniciada com até
três anos da sintomatologia instalada. Há muito poucas pesquisas
na literatura psiquiátrica porque estes pacientes se recusam a participar
dos trabalhos científicos, visto que não se consideram psiquiatricamente
doentes. Pela mesma razão não se sabe ao certo que percentagem
da população é atingida por esse problema, nem o perfil
caracterológico dessas pessoas.
É necessário que um psiquiatra converse com o paciente hipocondríaco
para investigar a possível concomitância com outros transtornos
de ansiedade como o pânico ou a depressão que podem levar a hipocondria.
Há também casos de psicoses com alucinações
ou delírios corporais.
Transtorno
Doloroso Persistente
A queixa predominante é de dor persistente, grave e angustiante, a qual
não pode ser plenamente explicada por nenhum processo fisiológico
ou por um transtorno físico. Geralmente existe um fator psicológico
associado. Depois de descartada a possibilidade de uma causa física,
a investigação das circunstâncias de vida da pessoa pode
revelar ganhos que o paciente obtém com a queixa persistente de dor.
Ao se fazer este diagnóstico os familiares não devem tomar uma
postura de indiferença ou desprezo pelo paciente: isso só faz
piorar as coisas. Também não se deve submeter aos exageros do
paciente, nem às tentativas de manipulação por sua dor.
O transtorno doloroso não é uma invenção, existe,
não como uma origem inflamatória, mas por algum mecanismo ainda
pouco conhecido que opera na mente destas pessoas. Deve-se, portanto viver a
solidariedade distante, ou seja, estar do lado do paciente sempre, mas sabendo
que ele pode usar de suas queixas para obter ganhos e manipular quem está
próximo. Esta atitude não é simples de entender nem de
exercer, mas é o melhor que se pode fazer além do suporte psicoterapêutico.
Última
Atualização: 15-10-2004
Ref. Bibliograf: Liv 01 Liv
02 Liv 04