![]() |
|||
![]() |
Esquizofrenia Transtornos relacionados por semelhança ou classificação ![]() |
||
![]() |
Voltar | psicose transitória | delirante | bipolar | esquizoafetivo | puerperal | esquizofreniforme | psicoses | | ||
![]() |
![]() |
O que é?
Apesar da exata origem não estar concluída, as evidências
indicam mais e mais fortemente que a esquizofrenia é um severo transtorno
do funcionamento cerebral. A Dra Nancy Andreasen disse: "As atuais evidências
relativas às causas da esquizofrenia são um mosaico: a única
coisa clara é a constituição multifatorial da esquizofrenia.
Isso inclui mudanças na química cerebral, fatores genéticos
e mesmo alterações estruturais. A origem viral e traumas encefálicos
não estão descartados. A esquizofrenia é provavelmente
um grupo de doenças relacionadas, algumas causadas por um fator, outras,
por outros fatores".
A questão sobre a existência de várias esquizofrenias e
não apenas uma única doença não é um assunto
novo. Primeiro, pela diversidade de manifestações como os sub-tipos
paranóide, hebefrênico e catatônico além das formas
atípicas, que são conhecidas há décadas. Segundo,
por analogia com outras áreas médicas como o câncer. O câncer
para o leigo é uma doença que pode atingir diferentes órgãos.
Na verdade trata-se de várias doenças com manifestação
semelhante. Para cada tipo de câncer há uma causa distinta, um
tratamento específico em chances de cura distintas. São, portanto,
várias doenças. Na esquizofrenia talvez seja o mesmo e o simples
fato de tratá-la como uma doença só que atrapalha sua compreensão.
Poucos sabemos sobre essa doença. O máximo que conseguimos foi
obter controle dos sintomas com os antipsicóticos. Nem sua classificação,
que é um dos aspectos fundamentais da pesquisa, foi devidamente concluída.
Revisão
Como Começa?
A esquizofrenia pode desenvolver-se gradualmente, tão lentamente que
nem o paciente nem as pessoas próximas percebem que algo vai errado:
só quando comportamentos abertamente desviantes se manifestam. O período
entre a normalidade e a doença deflagrada pode levar meses.
Por outro lado há pacientes que desenvolvem esquizofrenia rapidamente,
em questão de poucas semanas ou mesmo de dias. A pessoa muda seu comportamento
e entra no mundo esquizofrênico, o que geralmente alarma e assusta muito
os parentes.
Não há uma regra fixa quanto ao modo de início: tanto pode
começar repentinamente e eclodir numa crise exuberante, como começar
lentamente sem apresentar mudanças extraordinárias, e somente
depois de anos surgir uma crise característica.
Geralmente a esquizofrenia começa durante a adolescência ou quando
adulto jovem. Os sintomas aparecem gradualmente ao longo de meses e a família
e os amigos que mantêm contato freqüente podem não notar nada.
É mais comum que uma pessoa com contato espaçado por meses perceba
melhor a esquizofrenia desenvolvendo-se. Geralmente os primeiros sintomas são
a dificuldade de concentração, prejudicando o rendimento nos estudos;
estados de tensão de origem desconhecida mesmo pela própria pessoa
e insônia e desinteresse pelas atividades sociais com conseqüente
isolamento. A partir de certo momento, mesmo antes da esquizofrenia ter deflagrado,
as pessoas próximas se dão conta de que algo errado está
acontecendo. Nos dias de hoje os pais pensarão que se trata de drogas,
os amigos podem achar que são dúvidas quanto à sexualidade,
outros julgarão ser dúvidas existenciais próprias da idade.
Psicoterapia contra a vontade do próprio será indicada e muitas
vezes realizada sem nenhum melhora para o paciente. A permanência da dificuldade
de concentração levará à interrupção
dos estudos e perda do trabalho. Aqueles que não sabem o que está
acontecendo, começam a cobrar e até hostilizar o paciente que
por sua vez não entende o que está se passando, sofrendo pela
doença incipiente e pelas injustiças impostas pela família.
É comum nessas fases o desleixo com a aparência ou mudanças
no visual em relação ao modo de ser, como a realização
de tatuagens, piercing, cortes de cabelo, indumentárias estranhas e descuido
com a higiene pessoal. Desde o surgimento dos hippies e dos punks essas formas
estranhas de se apresentar, deixaram de ser tão estranhas, passando mesmo
a se confundirem com elas. O que contribui ainda mais para o falso julgamento
de que o filho é apenas um "rebelde" ou um "desviante
social".
Muitas vezes não há uma fronteira clara entre a fase inicial com
comportamento anormal e a esquizofrenia propriamente dita. A família
pode considerar o comportamento como tendo passado dos limites, mas os mecanismos
de defesa dos pais os impede muitas vezes de verem que o que está acontecendo;
não é culpa ou escolha do filho, é uma doença mental,
fato muito mais grave.
A fase inicial pode durar meses enquanto a família espera por uma recuperação
do comportamento. Enquanto o tempo passa os sintomas se aprofundam, o paciente
apresenta uma conversa estranha, irreal, passa a ter experiências diferentes
e não usuais o que leva as pessoas próximas a julgarem ainda mais
que o paciente está fazendo uso de drogas ilícitas. É possível
que o paciente já esteja tendo sintomas psicóticos durante algum
tempo antes de ser levado a um médico.
Quando um fato grave acontece não há mais meios de se negar que
algo muito errado está acontecendo, seja por uma atitude fisicamente
agressiva, seja por tentativa de suicídio, seja por manifestar seus sintomas
claramente ao afirmar que é Jesus Cristo ou que está recebendo
mensagens do além e falando com os mortos. Nesse ponto a psicose está
clara, o diagnóstico de psicose é inevitável. Nessa fase
os pais deixam de sentir raiva do filho e passam a se culpar, achando que se
tivessem agido antes nada disso estaria acontecendo, o que não é
verdade. Infelizmente o tratamento precoce não previne a esquizofrenia,
que é uma doença inexorável. As medicações
controlam parcialmente os sintomas: não normalizam o paciente. Quando
isso acontece é por remissão espontânea da doença
e por nenhum outro motivo.
O Diagnóstico
Não há um exame que diagnostique
precisamente a esquizofrenia, isto depende exclusivamente dos conhecimentos
e da experiência do médico, portanto é comum ver conflitos
de diagnóstico. O diagnóstico é feito pelo conjunto de
sintomas que o paciente apresenta e a história como esses sintomas foram
surgindo e se desenvolvendo. Existem critérios estabelecidos para que
o médico tenha um ponto de partida, uma base onde se sustentar, mas a
maneira como o médico encara os sintomas é pessoal. Um médico
pode considerar que uma insônia apresentada não tenha maior importância
na composição do quadro; já outro médico pode considerá-la
fundamental. Assim os quadros não muito definidos ou atípicos
podem gerar conflitos de diagnóstico.
O Curso
Que a esquizofrenia é doença grave ninguém duvida, pois
afeta as emoções, o pensamento, as percepções e
o comportamento. Mas o que dizer de uma gravidade que pode não deixar
seqüelas nem ameaçar a vida da pessoa, mas pelo contrário
permite o restabelecimento da normalidade? A gravidade então não
está tanto no diagnóstico: está mais no curso da doença.
Classicamente a distinção que Kraepelin fez entre esquizofrenia
(demência precoce) e o transtorno bipolar (psicose cíclica) foi
a possibilidade de recuperação dos cicladores, enquanto os esquizofrênicos
se deterioravam e não se recuperavam. Talvez a partir daí criou-se
uma tendência a considerar-se a esquizofrenia irrecuperável. Não
resta a menor dúvida de que muitos casos não se recuperam, mas
há exceções e quando eles surgem toda a regra passa a ser
duvidosa, pois se perdem os limites sobre os quais se operava com segurança.
Há dois motivos básicos que justificam a falta de segurança
sobre o curso da esquizofrenia:
1- Falta de critérios uniformes nas pesquisas passadas sobre o assunto.
2- Dificuldade de se acompanhar ao longo de vários anos um grupo grande
de pacientes.
Faz apenas um pouco mais de 10 anos que se editou pela Organização
Mundial de Saúde, critérios objetivos e claros para a realização
do diagnóstico da esquizofrenia. Na versão anterior, o CID 9,
os critérios eram "frouxos" permitindo diferenças consideráveis
nos parâmetros adotados entre os estudos; assim as disparidades de resultados
entre eles era inaceitável terminando com a indefinição
a respeito do curso da esquizofrenia. Algumas psicoses são naturalmente
transitórias e únicas na vida de uma pessoa. Se por engano essas
são consideradas como esquizofrênicas gera-se conflito ao se comparar
com estudos cujos critérios exigiam um período mínimo de
meses na duração da psicose. Mesmo que durem muitos anos as psicoses
não podem ser confundidas com a personalidade esquizóides. Assim,
devido à falta de rigor na realização dos diagnósticos
não podemos ter segurança nos estudos anteriores ao CID 10 ou
ao DSM-III (para os estudos que se basearam nos critérios americanos);
portanto as conclusões desses estudos não podem determinar nossa
conduta atual. Apesar do CID 10 ter criado uma técnica comprovadamente
mais confiável e precisa de se diagnosticar a esquizofrenia o problema
não está resolvido. Somente com o tempo e com mais pesquisas saberemos
se os critérios hoje adotados estão corretos, se correspondem
à realidade. Caso no futuro se constate que ainda são insuficientes,
as pesquisas feitas com os critérios do CID 10 também serão
desacreditadas. As pesquisas precisam dizer se o que estamos diagnosticando
é uma doença com vários cursos naturais ou se são
na verdade várias doenças cada qual com seu curso próprio.
Perante essas dificuldades entendemos por que são tão almejadas
técnicas biológicas, como as de imagem da tomografia por emissão
de pósitrons, para se estudar as esquizofrenias.
Dentre vários estudos publicados na última década sobre
o curso da esquizofrenia, selecionamos um para ilustrar a diversidade de resultados
e dificuldade de avaliação. Quanto mais difíceis de análise
um estudo, mais sujeito à falhas e conclusões erradas ele está.
Nesse trabalho foram selecionadas seis pessoas que tinham preenchido, dez anos
antes, critérios para esquizofrenia, sendo que todos alcançaram
remissão completa do quadro. Com esse tipo de estudo torna-se possível
verificar se a remissão detectada na época seria permanente ou
uma fase de melhoria antes da cronicidade permanente. Como resultado, mesmo
num grupo tão pequeno, constatou-se vários cursos distintos. Três
permaneciam em remissão completa, um seguia um curso deteriorante contínuo
e dois apresentavam flutuações dos sintomas. Não foram
identificadas diferenças clínicas que distinguisse os pacientes.
Para se dizer se o paciente estava com ou sem sintomas psicóticos foi
usado um questionário estruturado de entrevista para todos, acurando,
assim, possíveis "defeitos" deixados pela psicose prévia.
Psychiatry, 61(1):20-34 1998 Spring Torgalsbøen AK; Rund BR
Desse estudo podemos ver que a remissão completa não é
garantia de cura. Esse dado aparentemente banal é importantíssimo
no relacionamento com o paciente e sua família por que 100% deles perguntam
se ficarão bem, se voltarão a ser o que eram. No atual momento
nenhum profissional da saúde mental pode afirmar o que acontecerá.
Dizer que não vai melhorar é provocar uma iatrogenia, dizer que
vai ficar bom pode ser ilusório o que posteriormente custará a
confiança no profissional.
O que causa?
Sobre a causa da esquizofrenia só sabemos duas coisas: é complexa
e multifatorial. O cérebro, por si, possui um funcionamento extremamente
complexo e em grande parte desconhecido. Essa complexidade aumenta se considerarmos,
e temos de considerar, que o funcionamento do cérebro depende do funcionamento
de outras partes do corpo como os vasos sangüíneos, o metabolismo
do fígado, a filtragem do rim, a absorção do intestino,
etc. Por fim, se considerando outras variáveis nada desprezíveis
como o ambiente social e familiar, a complexidade se torna inatingível
para os recursos de que dispomos. Provavelmente a esquizofrenia é resultado
disso tudo. Na história da Medicina as doenças foram descobertas
muitas vezes pelos grupos ou atividades de risco. As pessoas que passavam em
determinado local e contraíam doenças comuns àquela região
abriam precedentes nas pesquisas. Locais onde o solo era pobre em iodo, as pessoas
adquiriam bócio; locais onde havia certos mosquitos as pessoas podiam
adquirir malária, dengue, febre amarela. Locais infestados por ratos,
adquirir leptospirose. Com a esquizofrenia, nunca se conseguiu identificar fatores
de risco, exceto o parentesco com algum esquizofrênico. Este fato dificulta
as investigações porque não fornece as pistas nas quais
os pesquisadores médicos precisam se basear para pesquisar. Como não
há pistas, somos obrigados a escolher um tema que por intuição
pode se relacionar à esquizofrenia e investigá-lo. É isto
que tem sido feito.
Teoria Bioquímica
A mais aceita em parte devido ao sucesso das medicações: as pessoas
com esquizofrenia sofrem de um desequilíbrio neuroquímico, portanto
falhas na comunicação celular do grupo de neurônios envolvidos
no comportamento, pensamento e senso-percepção.
Teoria do Fluxo Sangüíneo Cerebral
Com as modernas técnicas de investigação das imagens cerebrais
(Tomografia por Emissão de Pósitrons- TEP) os pesquisadores estão
descobrindo áreas que são ativadas durante o processamento de
imagens sejam elas normais ou patológicas. As pessoas com esquizofrenia
parecem ter dificuldade na "coordenação" das atividades
entre diferentes áreas cerebrais. Por exemplo, ao se pensar ou falar,
a maioria das pessoas mostra aumento da atividade nos lobos frontais, juntamente
a diminuição da atividade de áreas não relacionadas
a este foco, como a da audição. Nos pacientes esquizofrênicos
observamos anomalias dessas ativações. Por exemplo, ativação
da área auditiva quando não há sons (possivelmente devido
a alucinações auditivas), ausência de inibição
da atividade de áreas fora do foco principal, incapacidade de ativar
como a maioria das pessoas, certas áreas cerebrais.
A TEP mede a intensidade da atividade pelo fluxo sangüíneo: uma
região cerebral se ativa, recebendo mais aporte sangüíneo,
o que pode ser captado pelo fluxo sangüíneo local. Ela mostrou um
funcionamento anormal, mas por enquanto não temos a relação
de causa e efeito entre o que as imagens revelam e a doença: ou seja,
não sabemos se as anomalias, o déficit do fluxo sangüíneo
em certas áreas, são a causa da doença ou a conseqüência
da doença.
Teoria Biológica Molecular
Especula-se a respeito de anomalias no padrão de certas células
cerebrais na sua formação antes do nascimento. Esse padrão
irregular pode direcionar para uma possível causa pré-natal da
esquizofrenia ou indicar fatores predisponentes ao desenvolvimento da doença.
Teoria Genética
Talvez essa seja a mais bem
demonstrada de todas as teorias. Nas décadas passadas vários
estudos feitos com familiares mostrou uma correlação linear e
direta entre o grau de parentesco e as chances de surgimento da esquizofrenia.
Pessoas sem nenhum parente esquizofrênico têm 1% de chances de virem
a desenvolver esquizofrenia; com algum parente distante essa chance aumenta
para 3 a 5%. Com um pai ou mãe aumenta para 10 a 15%, com um irmão
esquizofrênico as chances aumentam para aproximadamente 20%, quando o
irmão possui o mesmo código genético (gêmeo idêntico)
as chances de o outro irmão vir a ter esquizofrenia são de 50
a 60%.A teoria genética, portanto explica em boa parte de onde vem a
doença. Se explicasse tudo, a incidência de esquizofrenia entre
os gêmeos idênticos seria de 100%.
Teoria do Estresse
O estresse não causa esquizofrenia, no entanto o estresse pode agravar
os sintomas. Situações extremas como guerras, epidemias, calamidades
públicas não fazem com que as pessoas que passaram por tais situações
tenham mais esquizofrenia do que aquelas que não passaram.
Teoria das Drogas
Não há provas de que drogas lícitas ou ilícitas
causem esquizofrenia. Elas podem, contudo, agravar os sintomas de quem já
tem a doença. Certas drogas como cocaína ou estimulantes podem
provocar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia, mas não há
evidências que cheguem a causá-la.
Teoria Nutricional
A alimentação balanceada é recomendável a todos,
mas não há provas de que a falta de certas vitaminas desencadeie
esquizofrenia nas pessoas predispostas. As técnicas de tratamento por
megadoses de vitaminas não têm fundamento estabelecido por enquanto.
Teoria Viral
A teoria de que a infecção por um vírus conhecido ou desconhecido
desencadeie a esquizofrenia em pessoas predispostas foi muito estudada. Hoje
essa teoria vem sendo abandonada por falta de evidências embora muitos
autores continuem considerando-a como possível fator causal.
Teoria Social
Fatores sociais como desencadeantes da esquizofrenia sempre são levantados,
mas pela impossibilidade de estudá-las pelos métodos hoje disponíveis,
nada se pode afirmar a seu respeito. Toda pesquisa científica precisa
isolar a variável em estudo.No caso do ambiente social não há
como fazer isso sem ferir profundamente a ética.
Quando um filho tem Esquizofrenia
...quando um filho tem esquizofrenia, ele sofre e sofre também a família.
Num primeiro movimento, tenta-se esconder a doença por causa do preconceito
social. Quando a doença não passa, os sonhos se desfazem, a preservação
da imagem não tem mais sentido porque a doença é mais grave
que o preconceito. A desesperança surge junto com a tristeza e o sentimento
de perda da vida, da perspectiva, do futuro daquele que adoeceu tem que ser
superado. A doença não pede licença: impõe e obriga-nos
a mudar de postura diante da vida, diante da dor. A esquizofrenia não
pode ser encarada como uma desgraça: tem que ser vista como uma barreira
natural para nossos planos e desejos pessoais. Quando alguém na família
adquire esquizofrenia é necessário que toda a família mude,
se adapte para continuar sendo feliz apesar da dor. Os artigos científicos
não publicam, mas o ser humano é capaz de ser feliz apesar da
doença.
A esquizofrenia é uma doença incapacitante e crônica, que
ceifa a juventude e impede o desenvolvimento natural. Geralmente se inicia no
fim da adolescência ou no começo da idade adulta de forma lenta
e gradual. O período de conflitos naturais da adolescência e a
lentidão de seu início confundem as pessoas que estão próximas.
Os sintomas podem ser confundidos com "crises existenciais", "revoltas
contra o sistema", "alienação egoísta",
uso de drogas, etc.
Sintomas
Positivos e Negativos
A divisão dos sintomas psicóticos em positivos e negativos tem
por finalidade dizer de maneira objetiva o estado do paciente. Tendo como ponto
de referência a normalidade, os sintomas positivos são aqueles
que não deveriam estar presentes como as alucinações, e
os negativos aqueles que deveriam estar presentes mas estão ausentes,
como o estado de ânimo, a capacidade de planejamento e execução,
por exemplo. Portanto sintomas positivos não são bons sinais,
nem os sintomas negativos são piores que os positivos.
Positivos
Alucinações - as mais comuns nos esquizofrênicos são
as auditivas. O paciente geralmente ouve vozes depreciativas que o humilham,
xingam, ordenam atos que os pacientes reprovam, ameaçam, conversam entre
si falando mal do próprio paciente. Pode ser sempre a mesma voz, podem
ser de várias pessoas podem ser vozes de pessoas conhecidas ou desconhecidas,
podem ser murmúrios e incompreensíveis, ou claras e compreensíveis.
Da mesma maneira que qualquer pessoa se aborrece em ouvir tais coisas, os pacientes
também se afligem com o conteúdo do que ouvem, ainda mais por
não conseguirem fugir das vozes. Alucinações visuais são
raras na esquizofrenia, sempre que surgem devem pôr em dúvida o
diagnóstico, favorecendo perturbações orgânicas do
cérebro.
Delírios - Os delírios de longe mais comuns na esquizofrenia são
os persecutórios. São as idéias falsas que os pacientes
têm de que estão sendo perseguidos, que querem matá-lo ou
fazer-lhe algum mal. Os delírios podem também ser bizarros como
achar que está sendo controlado por extraterrestres que enviam ondas
de rádio para o seu cérebro. O delírio de identidade (achar
que é outra pessoa) é a marca típica do doente mental que
se considera Napoleão. No Brasil o mais comum é considerar-se
Deus ou Jesus Cristo.
Perturbações do Pensamento - Estes sintomas são difíceis
para o leigo identificar: mesmos os médicos não psiquiatras não
conseguem percebê-los, não porque sejam discretos, mas porque a
confusão é tamanha que nem se consegue denominar o que se vê.
Há vários tipos de perturbações do pensamento, o
diagnóstico tem que ser preciso porque a conduta é distinta entre
o esquizofrênico que apresenta esse sintoma e um paciente com confusão
mental, que pode ser uma emergência neurológica.
Alteração da sensação do eu - Assim como os delírios,
esses sintomas são diferentes de qualquer coisa que possamos experimentar,
exceto em estados mentais patológicos. Os pacientes com essas alterações
dizem que não são elas mesmas, que uma outra entidade apoderou-se
de seu corpo e que já não é ela mesma, ou simplesmente
que não existe, que seu corpo não existe.
Negativos
Falta de motivação e apatia - Esse estado é muito comum,
praticamente uma unanimidade nos pacientes depois que as crises com sintomas
positivos cessaram. O paciente não tem vontade de fazer nada, fica deitado
ou vendo TV o tempo todo, freqüentemente a única coisa que faz é
fumar, comer e dormir. Descuida-se da higiene e aparência pessoal. Os
pacientes apáticos não se interessam por nada, nem pelo que costumavam
gostar.
Embotamento afetivo - As emoções não são sentidas
como antes. Normalmente uma pessoa se alegra ou se entristece com coisas boas
ou ruins respectivamente. Esses pacientes são incapazes de sentir como
antes. Podem até perceber isso racionalmente e relatar aos outros, mas
de forma alguma podem mudar essa situação. A indiferença
dos pacientes pode gerar raiva pela apatia conseqüente, mas os pacientes
não têm culpa disso e muitas vezes são incompreendidos.
Isolamento social - O isolamento é praticamente uma conseqüência
dos sintomas acima. Uma pessoa que não consegue sentir nem se interessar
por nada, cujos pensamentos estão prejudicados e não consegue
diferenciar bem o mundo real do irreal não consegue viver normalmente
na sociedade.
Os sintomas negativos não devem ser confundidos com depressão.
A depressão é tratável e costuma responder às medicações,
já os sintomas negativos da esquizofrenia não melhoram com nenhum
tipo de antipsicótico. A grande esperança dos novos antipsicóticos
de atuarem sobre os sintomas negativos não se concretizou, contudo esses
sintomas podem melhorar espontaneamente.
Como reconhecer a esquizofrenia
ainda no começo?
O reconhecimento precoce da esquizofrenia é uma tarefa difícil
porque nenhuma das alterações é exclusiva da esquizofrenia
incipiente; essas alterações são comuns a outras enfermidades,
e também a comportamentos socialmente desviantes mas psicologicamente
normais . Diagnosticar precocemente uma insuficiência cardíaca
pode salvar uma vida, já no caso da esquizofrenia a única vantagem
do diagnóstico precoce é poder começar logo um tratamento,
o que por si não implica em recuperação. O diagnóstico
precoce é melhor do que o diagnóstico tardio, pois tardiamente
muito sofrimento já foi imposto ao paciente e à sua família,
coisa que talvez o tratamento precoce evite. O diagnóstico é tarefa
exclusiva do psiquiatra, mas se os pais não desconfiam de que uma consulta
com este especialista é necessária nada poderá ser feito
até que a situação piore e a busca do profissional seja
irremediável. Qualquer pessoa está sujeita a vir a ter esquizofrenia;
a maioria dos casos não apresenta nenhuma história de parentes
com a doença na família. Abaixo estão enumeradas algumas
dicas: como dito acima, nenhuma delas são características mas
servem de parâmetro para observação.
Nenhum desses sinais por
si comprovam doença mental, mas podem indicá-la. Pela faixa etária
esses sinais podem sugerir envolvimento com drogas, personalidade patológica
ou revolta típica da idade. Diferenciar a esquizofrenia do envolvimento
com drogas pode ser feito pela observação da preocupação
constante com dinheiro, no caso de envolvimento com drogas, coisa rara na esquizofrenia.
A personalidade patológica não apresenta mudanças no comportamento,
é sempre desviante, desde as tenras idades. Na esquizofrenia incipiente
ainda que lentamente, ocorre uma mudança no curso do comportamento da
pessoa, na personalidade patológica não. Na revolta típica
da adolescência sempre haverá um motivo razoável que justifique
o comportamento, principalmente se os pais tiverem muitos conflitos entre si.
A Família do esquizofrênico
O paciente esquizofrênico sofre intensamente com sua condição
e sua família também, não há como isto ser evitado.
Infelizmente os programas político-sociais de reinserção
dos doentes mentais na sociedade simplesmente ignoram o sofrimento e as necessidades
da família, que são enormes. Esta é vista como desestruturada,
fria, indiferente ou mesmo hostil ao paciente. Da mesma forma que o paciente
esquizofrênico sofre duas vezes, pela doença e pelo preconceito,
a família também sofre duas vezes, com a doença do filho
e com a discriminação e incompreensão sociais. Num país
pobre como o Brasil, a assistência à família do esquizofrênico
tem que ser um programa governamental indispensável, para que se possa
preservar o desempenho social (estudo, trabalho, profissão) dos parentes
dos pacientes esquizofrênicos. O nível de recuperação
que se tem com o tratamento da esquizofrenia é muito baixo; os irmãos
saudáveis desses pacientes devem ser amparados para não terem
suas vidas impedidas de se desenvolver por causa da esquizofrenia de um irmão.
A título de reumanização do tratamento dos esquizofrênicos,
pretende-se fechar os hospitais psiquiátricos alocando-os para outros
serviços que não incluem atendimento às necessidades dos
parentes dos esquizofrênicos. Como está, esse projeto não
apenas piorará a situação do paciente, como também
de sua família. Os problemas que geralmente ocorrem na família
dos esquizofrênicos são os seguintes:
Sinais de boa recuperação
Tem sido observado que certos pacientes se recuperam mais freqüentemente
do que outros. Nesse grupo foi identificado um grupo de características
que pode servir como parâmetro, referência para boa recuperação.
Esses sintomas não servem como garantia, mas aumentam as chances dessas
pessoas de se recuperarem. Os sinais são os seguintes:
Não há unanimidade
quanto a esses sintomas, sempre haverá quem conteste a afirmação
de que indicam bom prognóstico. Sintomas catatônicos (imobilidade
ou excitação excessiva) e confusão mental apesar de aparentarem
maior gravidade podem se resolver mais rapidamente deixando a pessoa sem problemas.
Um sinal importante de boa recuperação é a idade de início,
quanto mais tarde mais chances de recuperação. A idade comum de
início da esquizofrenia é o fim da adolescência e início
da idade adulta podendo começar até aproximadamente 45 anos. Casos
raros se dão após essa idade ou na infância.
As pessoas que sofreram traumatismos cranianos no nascimento ou ao longo da
vida, assim como aquelas que sofreram infecções encefálicas.
Princípios para uso das
medicações
Os remédios são a única alternativa para tratar a esquizofrenia,
outras formas de terapia complementam, mas não substituem as medicações.
Há, contudo, uma natural resistência ao uso delas e isso é
apenas uma conseqüência da forma como se entende a doença.
Se encararmos a medicação como algo estranho ao corpo a aversão
se dará inevitavelmente, mas se encararmos as medicação
como substâncias reguladoras de atividades cerebrais desequilibradas,
podemos vê-las como amigas. O paciente não tem nenhuma culpa por
uma parte do cérebro estar desregulado, mas pode usar o lado saudável
(o bom senso) para tomar a decisão de se tratar. As medicações,
portanto, só fazem ajustar o que estava desajustado. Infelizmente no
caso da esquizofrenia não conhecemos medicações que realizem
essa tarefa completamente, restabelecendo a normalidade do paciente. Mas por
enquanto temos uma ajuda parcial. Meia dor é menos ruim que uma dor completa.
Última Atualização:
8-10-2004
Ref. Bibliograf: Liv 01 Liv
09 Liv 02 Liv
04 Eur. Psychiatry
2001: 16, 90-8
Relapse Prevention in Schizophrenia
J Bergiannaki Eur. Psychiatry 2001: 16, 90-8
Hospital Physician 2001; 50: 21-28
New Hope in Pharmacotherapy for Schizophrenia
Leonardo Cortese